Não há como, ainda mais em um blog, ser 100 % jornalista atado às normas cultas da análise e da escrita. Blog é velocidade, é tosse que não se esconde, é ser técnico de futebol sem ter jogado bola… Mas há algo em todos nós, em diferentes graus, que nos motiva: a busca pela justiça. Todo mundo ficou indignado com essa história da “farra das passagens aéreas” bancadas por dinheiro de impostos, dinheiro público para amigos e parentes de deputados (mais de metade foi para o exterior por conta da Câmara entre 2007 e 2008). O orçamento do Congresso brasileiro é o segundo maior orçamento do mundo, logo depois do norte-americano.
Desde ontem, os gastos da Câmara estão disponíveis na internet. E agora seja o que Deus quiser. Você acredita em contos de fada? Mas é melhor lê-los ou não?
Passagens dadas a artistas que ganham muito bem e que não precisavam ter feito isso, ter dito sim, ter viajado para curtir a vida, para participar de carnavalzinho bancados pelo bolso de todos nós. O desconhecimento das leis, da verdade, nos faz menores e controláveis, mas graças a Zeus existe a imprensa livre, a que nos serve de olhos, ouvidos e consciência.
Ler é ter poder, o poder do discernimento. O poder da escolha. Prefiro brigar pela Verdade, ser ferido pelos espinhos da verdade, do que me calar. Escrevo e debato vários temas, porque acredito que existam pessoas interessadas em ler, em abrir as mentes e não em viver apenas discutindo obviedades.
É preto no branco ou branco no preto?
Ter visto na TV a discussão acalorada entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa que ocorreu ontem na TV, me fez pensar sobre essas mesmas verdades e pensar muito sobre meu país, sobre a formação do nosso povo.Viu-se e sabe-se que ambos têm problemas pessoais. Há pontos de atritos entre amigos e colegas de trabalho, até aí nada demais, mas pela harmonia do ambiente pede-se que pelo menos haja tolerância entre as partes. Mas se um bate boca daqueles ocorre ao vivo (e graças a Deus vivemos em um país no qual podemos ver deputados, vereadores, senadores e juízes trabalharem) e em algumas horas o mesmo pode ser debatido pelo público e juristas é motivo de júbilo, é uma benção para todos nós.
Nossa sociedade tem chagas e várias delas ainda não cicatrizadas. E o caminho da libertação se inicia no debate para se chegar à compreensão. No caminho da clareza, no caminho do bem. Não no caminho da força ou da mentira.
À luz da razão ou cego pela emoção?
Abrindo um pouco o leque da análise, para não falar apenas sobre o Brasil, o umbigo do mundo, vejamos o caso do Paraguai e da África do Sul cujos presidentes (ou um candidato vitorioso desde o início, tanto faz) recentemente se envolveram em escândalos sexuais. O presidente paraguaio Fernando Lugo fez um monte de filhos quando ainda era bispo católico, na época que ainda não tinha abandonado a batina e enveredado pela política de fato. A tal política do padre era pregar sua fé e ao mesmo tempo não controlar a sua libido. Repito, o ex-bispo e atual presidente do Paraguai, Fernando Lugo dormiu com moças de todas as classes sociais e idades. Era um padre (em espanhol, essa palavra significa tanto pai como sacerdote ) bom de cama, literalmente. Se um escândalo desses tivesse ocorrido no próprio Paraguai há 20 anos, certamente teria havido um golpe de Estado para depô-lo, ainda mais por causa de alguém que tanto falou sobre moralidade, brigou com o Brasil por causa da injusta hidrelétrica de Itaipu, o mesmo sujeito que abriu mão de mais de um salário mínimo por mês e de uma casa presidencial confortável para governar, para manter sua imagem de padre recatado. Literalmente o slogan “mulher do padre” pode ser muito bem aplicado a esse caso. A letra de uma música satírica paraguaia diz que os “parlamentares vão pensar três vezes, a partir de agora, antes de mandar a mulher para o confessionário.”
Na África do Sul, após quase quatro décadas vivendo sob o domínio de uma minoria branca, a mesma que trancafiou Mandela, é natural que negros, a maioria esmagadora da população cheguem ao poder. Mas se joga sujo na política, ainda mais em uma campanha presidencial, e onde há telhado de vidro, a pedra vem que vem. Soube-se que o candidato Jacob Zuma (ou Msholozi pelo nome do seu clã), o líder do CNA, estuprou uma aidética… Como zulu, ele pode ter (e tem) 4 esposas e não pode nunca rejeitar uma fêmea, podemos colocar as coisas dessa forma. Como zulu, ele tem que mostrar que é “homem-macho”. Além de ter sido acusado de corrupção, Zuma confirmou que foi “atentado” por uma moça e como zulu, sua única opção foi estuprá-la, e a senhora é aidética… Mas isso não o fez perder a popularidade. A canção que Zuma canta em seus comícios se chama singelamente “Traga-me a minha metralhadora”, composição que ficou famosa durante o período de luta contra o apartheid.
Dá-lhe Joaquinzão
A quase briga (física) entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa (se tivesse ocorrido na rua e à base de algumas garrafas de cerveja a coisa teria descambado para o tapa) nos coloca em uma discussão moral e uma análise histórica. Vivemos em uma fase da história do nosso país na qual queremos justiça a todo custo, mesmo que seja feita à força. O branco (ou quase isso) Gilmar é considerado o responsável por libertar o banqueiro Daniel Dantas e em Barbosa vemos o ex-negro escravo que ascendeu ao ápice da nossa sociedade, assim como o zulu e o padre em outras Nações. A tendência (a minha inclusive, confesso) é colocar Mendes ao lado dos que gastam nosso dinheiro com passagens aéreas com seus amigos e em Barbosa vemos um herói, que se libertou do jugo da escravidão e que levanta a voz contra seu algoz, mesmo que ambos estejam – aparentemente – na mesma posição social e profissional.
Na sessão de ontem, a discussão começou quando Mendes, durante julgamento sobre a previdência pública no Paraná, indagou o fato de Barbosa ter questionado uma suposta ’sonegação de informações’ sobre o caso. Barbosa atacou Mendes e disse que o presidente ‘destrói a credibilidade do Judiciário brasileiro’ e que só se preocupa em aparecer em jornais, revistas e televisões. ‘Vossa Excelência não tem condição de dar lição a ninguém’, disparou Mendes. ‘E nem Vossa Excelência. Vossa Excelência me respeite. Vossa Excelência não tem condição alguma. Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país e vem agora dar lição de moral em mim? Vossa Excelência não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite!’, rebateu Barbosa.
Dá-lhe Joaquinzão
A quase briga (física) entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa (se tivesse ocorrido na rua e à base de algumas garrafas de cerveja a coisa teria descambado para o tapa) nos coloca em uma discussão moral e uma análise histórica. Vivemos em uma fase da história do nosso país na qual queremos justiça a todo custo, mesmo que seja feita à força. O branco (ou quase isso) Gilmar é considerado o responsável por libertar o banqueiro Daniel Dantas e em Barbosa vemos o ex-negro escravo que ascendeu ao ápice da nossa sociedade, assim como o zulu e o padre em outras Nações. A tendência (a minha inclusive, confesso) é colocar Mendes ao lado dos que gastam nosso dinheiro com passagens aéreas com seus amigos e em Barbosa vemos um herói, que se libertou do jugo da escravidão e que levanta a voz contra seu algoz, mesmo que ambos estejam – aparentemente – na mesma posição social e profissional.
Na sessão de ontem, a discussão começou quando Mendes, durante julgamento sobre a previdência pública no Paraná, indagou o fato de Barbosa ter questionado uma suposta ’sonegação de informações’ sobre o caso. Barbosa atacou Mendes e disse que o presidente ‘destrói a credibilidade do Judiciário brasileiro’ e que só se preocupa em aparecer em jornais, revistas e televisões. ‘Vossa Excelência não tem condição de dar lição a ninguém’, disparou Mendes. ‘E nem Vossa Excelência. Vossa Excelência me respeite. Vossa Excelência não tem condição alguma. Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país e vem agora dar lição de moral em mim? Vossa Excelência não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite!’, rebateu Barbosa.
O padre paraguaio, o zulu e os juízes brigões são seres humanos, capazes de cometer erros, como todos nós.. Só que em uma situação típica de acomodação (“eu votei para que alguém faça o trabalho por mim e então ele tem que ser cobrado pois recebe por isso) com indignação (“mas ele está ganhando para ser honesto”), como fica o papel do público, do eleitor? Como você se sente? Melhor ou igual aos seus pares?
Graças a Deus vivemos a transparência das ações humanas, falhas. Agradeço por isso, agradeço de coração, por poder escrever sobre isso, ainda mais porque cresci em uma ditadura da qual não podia se discordar.
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